Uma aeronave monomotor caiu na tarde desta sexta-feira (30) no bairro da Casa Verde, na zona norte de São Paulo. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, duas pessoas morreram (os dois pilotos do avião) e outras 12 pessoas em solo tiveram ferimentos leves.
Casas foram destruídas, e carros queimaram com o incêndio causado no acidente. O fogo logo foi controlado pelos bombeiros.
A queda do avião foi numa área residencial, próxima ao aeroporto Campo de Marte, que opera voos comerciais. O avião havia acabado de decolar e caiu na rua Antonio Nascimento Moura, ao lado da avenida Braz Leme, ligação entre o bairro de Santana e o centro de São Paulo.
A mãe de um dos pilotos foi ao local do acidente, passou mal, desmaiou e foi atendida em estado de choque pelos médicos do Samu. Ainda não há informações sobre quem eram os tripulantes.
A aeronave é um modelo monomotor Cessna 210, com capacidade para quatro pessoas. Ele tinha certificado válido até dezembro de 2022. De prefixo PR-JEE, o avião é privado, de propriedade do empresário Fernando Matarazzo e foi fabricado em 1980. Matarazzo não estava no voo, segundo a assessoria de imprensa da HPE Autos, empresa da qual ele é dono e que representa a Mitsubishi no Brasil.
Testemunhas afirmam que um forte estrondo foi sentido na região, seguido de um apagão.
A auxiliar administrativa Andreia Ribeiro, 42, trabalha numa imobiliária vizinha das casas atingidas pela aeronave. Ela conta que no momento do acidente ouviu um estrondo, a casa tremeu e as luzes apagaram.
Na rua, as pessoas gritavam para correr que a aeronave ia explodir. “Quando a gente saiu na porta o fogo já tava vindo. Chegou no hall de entrada. Larguei celular, bolsa, chave.”
Raimunda da Cunha, 45, mora na casa ao lado da atingida pelo avião. Ela diz que estava deitada no sofá por volta das 15h30 quando ouviu um estrondo. Desceu as escadas e encontrou a casa vizinha em chamas. “Ajoelhei e fui orar, não tinha mais o que fazer. Comecei a ligar pros meus irmãos para me despedir deles”, conta.
A zona norte de São Paulo, região onde está localizado o Campo de Marte, tem em seu histórico o registro de ao menos outros seis acidentes graves desde a década de 1980. O episódio mais recente aconteceu no final de julho de 2018, quando uma aeronave que vinha de Santa Catarina caiu na pista do aeroporto em São Paulo, causando a morte do piloto. Outras seis pessoas ficaram feridas.
O Campo de Marte, que opera com aviação geral, executiva e escolas de pilotagem, também já registrou vários acidentes envolvendo helicópteros. Um das graves ocorrências aconteceu em outubro de 2003, quando durante um voo de treinamento a aeronave caiu e explodiu.
CONCESSÃO À INICIATIVA PRIVADA
Em agosto de 2017, a Prefeitura de São Paulo e a União oficializaram um acordo para transformar parte do terreno do Campo de Marte em um parque municipal. Uma parcela da área também contará com um museu aeroespacial.
A ideia do então prefeito João Doria (PSDB), assumida pelo sucessor Bruno Covas (PSDB), é a de conceder o parque e o museu à iniciativa privada. À época, Doria disse que o projeto, no longo prazo, implicaria na desativação da pista de aviação do Campo de Marte.
Desde o acordo com a União a prefeitura recebeu dois estudos de possíveis interessados (na fase chamada de PPMI – Procedimento Preliminar de Manifestação de Interesse), que foram analisados, e atualmente elabora cronograma para desenvolvimento do projeto, sem data prevista para conclusão. A construção do parque, segundo a prefeitura, custará cerca de R$ 250 milhões e só será feita se assumida pela iniciativa privada.
O parque terá 270 mil metros quadrados e será construído em uma área de 400 mil metros quadrados cedida para uso pela Aeronáutica. Como parte do acordo com a União, também será construído um museu aeroespacial em uma área de aproximadamente 66,5 mil metros quadrados, com acervo composto por aviões da FAB, do museu Santos Dumont e do extinto museu da TAM.
Ainda não há acordo com a Infraero, que detém 46% do terreno total, sobre esse tema.
Segundo projeto apresentado pela prefeitura, o parque teria 2,2 km de pistas de corrida e ciclovias, 2,5 km de trilhas para caminhada com estações de ginástica, três quadras poliesportivas e espaços para piquenique e meditação.
Por Thaiza Pauluze e Thiago Amâncio/Folhapress
Projeto da Prefeitura de SP prevê Campo de Marte como parque e sem aviões
Em agosto de 2017, o então prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) oficializou acordo com a União para transformar parte do terreno do Campo de Marte em um parque municipal. Uma parcela da área também deverá contar com um museu aeroespacial.
Uma aeronave monomotor caiu na tarde desta sexta-feira (30) no bairro da Casa Verde, no entorno do Campo de Marte, e, segundo informações do Corpo de Bombeiros, duas pessoas morreram (os dois pilotos do avião) e outras 12 pessoas em solo tiveram ferimentos leves.
À época do anúncio, Doria, agora governador eleito do estado, disse se tratar de um primeiro movimento, que seria sucedido pela desativação da pista de aviação do Campo de Marte, que não atende voos comerciais, apenas aviões particulares, jatos executivos etc.. A última fase seria a retirada dos hangares (estacionamentos de aeronaves). No entanto, ainda não há acordo com a Infraero, que detém 46% do terreno total, sobre esse tema.
“Após a implantação do parque, teremos a segunda etapa, a ser decidida em tempo e em formato, para a desativação da pista do Campo de Marte, que hoje é mais utilizada para aviação geral e muito pouco pela Aeronáutica. A última etapa envolve os hangares, que também serão objeto de um entendimento amplo com a Infraero e com as empresas que ocupam estes hangares”, disse o tucano à época, que acrescentou que todo o processo seria concluído até o fim de seu mandato.
Associações relacionadas à aviação mobilizaram-se contra o projeto de Doria de extinguir os voos no Campo de Marte, alegando que não há alternativas para suprir a demanda existente de voos.
O acordo costurado com o presidente Michel Temer (MDB) colocou fim a 60 anos de disputa entre prefeitura e União. A ideia de fazer uma área de lazer pública no local já havia sido pensada por ao menos outros quatro prefeitos: Celso Pitta (PP), José Serra (PSDB), Gilberto Kassab (PSD) e Fernando Haddad (PT).
Os projetos, porém, nunca saíram do papel. O principal motivo é que o espaço é administrado pela Aeronáutica e pela Infraero, ambas ligadas ao Ministério da Defesa, que briga desde 1958 na Justiça com o município pela terra. Ela também já passou pelas mãos dos jesuítas, da Coroa portuguesa e do Estado de São Paulo.
A ideia da gestão municipal tucana, atualmente tocada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), é a de que a iniciativa privada assuma os custos estimados em R$ 250 milhões para a construção do parque e do museu.
Desde o acordo com a União a prefeitura recebeu dois estudos de possíveis interessados (na fase chamada de PPMI – Procedimento Preliminar de Manifestação de Interesse), que foram analisados, e atualmente elabora cronograma para desenvolvimento do projeto, sem data prevista para conclusão.
O acordo assinado prevê que 20% do terreno (406 mil m²) de 2,1 km² serão destinados ao parque. Dessa forma, ele seria o quinto maior da cidade, atrás dos parques Anhanguera (9,5 km², em Perus, zona norte), Ibirapuera (1,6 km², na Vila Mariana, zona sul), do Carmo (1,5 km², em Itaquera, zona leste) e Rodeio (0,6 km², em Cidade Tiradentes, na zona leste).
Cedida pela Aeronáutica, a área contém um trecho preservado de Mata Atlântica cortado por um córrego, seis campos de futebol utilizados por clubes amadores e um terreno de apoio ao sambódromo.
Apresentado pela prefeitura em outubro de 2017, o projeto do parque inclui 2,2 km de pistas de corrida e ciclovias, 2,5 km de trilhas para caminhada com estações de ginástica, três quadras poliesportivas e espaços para piquenique e meditação.
Como parte do acordo com a Aeronáutica também deverá ser construído um museu aeroespacial em uma área de aproximadamente 66,5 mil metros quadrados, com acervo composto por aviões da FAB, do museu Santos Dumont e do extinto museu da TAM.
As disputas entre prefeitura e União O acordo entre prefeitura e União foi um avanço na disputa judicial que se arrasta há 60 anos. Em 1932, com a derrota de São Paulo na Revolução Constitucionalista, o governo federal ocupou a área. Em 1958, a prefeitura entrou na Justiça para tentar recuperar o local.
Em 2003, o Tribunal Regional Federal decidiu que a área pertencia à União. Cinco anos depois, o Superior Tribunal de Justiça mudou o entendimento e determinou que o terreno era do município.
Mais recentemente, em 2011, segunda turma do STJ corroborou a decisão de 2008 e mandou a União devolver áreas sem uso a São Paulo, além de pagar indenização pela parte utilizada. Após o acordo, a União retirou a área correspondente da disputa judicial.
Mais recentemente, Celso Pitta (PP) (1997-2000) disse que construiria o “parque temático Campo de Marte” em cem dias no começo de sua gestão. José Serra (PSDB) (2005-2006) manifestou intenção de fazer um parque, mantendo o que já existia, em uma “solução de conciliação, não radical”, em discurso semelhante ao então defendido por Doria. Seu sucessor, Gilberto Kassab (PSD) (2006-2012), seguiu a mesma proposta, defendendo ainda estudos para criar um bulevar entre o Campo de Marte e o sambódromo.
A HISTÓRIA DO TERRENO
COLONIZAÇÃO
Área era dos jesuítas, que a receberam da coroa portuguesa na época da divisão de sesmarias
1759
Terreno é confiscado pela coroa quando o ministro Marquês de Pombal expulsa jesuítas das colônias
1891
No início da República, Estado de SP considera a terra devoluta (de domínio público, mas sem destinação específica) e a cede ao município
1912
Local passa a ser usado como picadeiro pela cavalaria militar paulista
1920
Campo de Marte recebe escola de aviação da Força Pública do Estado (antiga polícia)
1929
Aeroporto é inaugurado
1932
Com a derrota de SP na Revolução Constitucionalista, governo federal ocupa a área
1945
Após fim do Estado Novo, município retoma parte de sua autonomia e passa a negociar a devolução do espaço
1958
Prefeitura entra na Justiça para tentar recuperar local
2003
Tribunal Regional Federal decide que área é da União
2008
STJ (Superior Tribunal de Justiça) muda entendimento e determina que terreno é do município
2011
Segunda turma do STJ corrobora decisão de 2008 e manda União devolver imediatamente áreas sem uso ao município e a pagar indenização pelo espaço usado; União recorre ao STF
21.jul.2017
Prefeito João Doria e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, se reúnem e anunciam negociação para construção de parque
7.ago.2017
Prefeitura e Defesa assinam “protocolo de intenções” e “termo de liberação de acesso”
24.out.2017
Prefeitura anuncia detalhes do projeto Parque Campo de Marte
PRÓXIMOS PASSOS
A intenção de Doria é acabar com o aeroporto, permitindo apenas pousos e decolagens de helicópteros -o que Haddad também queria-, e retomar o resto do terreno.
Por Guilherme Seto/Folhapress